Entrevista com Miguel Chaves

Jan 4, 2024

Poderia partilhar um pouco sobre o seu papel enquanto administrador na TENSAI Industria SA e explicar como concilia essa responsabilidade com a sua convicção na importância de cultivar uma cultura sólida e inspirar pessoas?

O convite que me foi feito, pelo Sr. João Preto que muito me honrou para me juntar ao conselho de administração da Tensai e ao grupo de empresas associadas, tinha dois objetivos, contribuir por um lado com a minha experiência para implementação de políticas de “governance” e de analise de riscos mais profundos num momento em que os desafios da globalização tem impactos significativos na atividade da Tensai, e por outro lado contribuir para o lançamento da atividade Inspired Orbit, sociedade de promoção imobiliária em Portugal. Ao longo de quase 20 anos na minha carreira profissional na banca em Portugal e no estrangeiro tive a oportunidade de estar em contacto próximo, com algumas empresas de valores vincados, fáceis de percecionar e a grande maioria delas eram sinonimo de sucesso. A Tensai Industria é um claro exemplo disso com valores que são facilmente percetíveis, alicerçados numa cultura solida de trabalho que foi construída pelo Sr. João Preto desde o início da empresa e com a qual me identifico totalmente e facilitaram a minha integração. Independentemente da responsabilidade e do papel que cada um tem na organização a minha filosofia de vida é que cada dia da nossa vida é uma oportunidade para aprender e para partilhar conhecimento, é uma oportunidade de melhorar sem medo de errar, dando sempre melhor de nós com a preocupação de respeitar e fazer bem a quem nos rodeia, seja em casa, na rua ou trabalho.

Tenho tido a sorte ao longo dos diferentes capítulos minha vida de conviver com líderes de organizações que me inspiram e eu procuro fazer igual.

Como é que o Grupo Tensai gere a necessidade de manter uma cultura forte e inspiradora na sua organização?

A Tensai Indústria é uma organização com mais de 35 anos de atividade, com um conjunto de valores facilmente identificáveis como a relação e proximidade, preocupação com o meu ambiente, a confiança, sustentabilidade, modernidade, eficiência, disponibilidade, inovação e a capacidade de adaptação.
Tem um quadro de profissionais muito estável com vários anos de casa, desde a comissão executiva a colaboradores nas áreas administrativas, na produção ou em serviços de suporte todos são fundamentais nas suas funções, mas acima de tudo são os guardiões dos valores da Tensai, com a responsabilidade de os transmitir aos mais novos e a quem chega de novo.
Tudo começa num processo de recrutamento orientado para estes valores, na proximidade e acompanhamento do processo de integração, na aposta na formação continua, na partilha diária de informação e ideias, e na celebração regular das conquistas alcançadas com todos de forma aberta e transparente.

Desafios existem todos os dias, o importante é olhar para eles com rigor e com tranquilidade, reunir a maior informação possível e depois decidir e acompanhar.

Na sua opinião, qual é o papel de uma comunicação clara na construção de uma cultura forte de uma organização? E como o Grupo TENSAI aborda esta questão?

Uma boa comunicação é essencial na construção da cultura das sociedades e na forma como esta se relaciona com todos os stakeholders sejam colaboradores, clientes, fornecedores, parceiros ou entidades publicas. A comunicação está intimamente ligada com o passado, o presente e o futuro da Tensai, seja através de imagem, voz ou de uma simples expressão facial, e apesar de ser percecionada como uma responsabilidade típica das direções de marketing é uma responsabilidade de todos.
A Tensai também nesta área tem vindo a crescer, hoje estamos presentes nas principais redes sociais e em diversos meios de comunicação, dando a conhecer os nossos produtos, os testes que fazemos, as iniciativas que tomamos ao nível da reciclagem e desperdício zero, ao nível da utilização de energias renováveis, totalmente focados com a proteção do meio ambiente e com intuito de melhorar a nossa eficiência.
Divulgamos as iniciativas de team building e de competição nas quais participam os nossos colaboradores e que apoiamos, incentivamos a participação da equipa com boa disposição em momentos marcantes do ano e homenageamos quem tudo deu à Tensai como é o caso da nossa arca de congelação “Rita”, homenagem a uma colaboradora de chão de fábrica que partiu, e será sempre recordada como um exemplo do que é ser Tensai.
A Inspired Orbit apesar de ter uma atividade recente e uma equipa mais pequena tem uma atividade intensa com vários projetos a acontecer ao mesmo tempo. Também aqui a comunicação é fundamental e os princípios são os mesmos, a comunicação nasce com cada projecto, com a ideia/criação dos nossos parceiros e prolonga-se até à entrega do produto final aos nossos clientes.

De que forma a sua experiência anterior, sobretudo enquanto fundador e membro do Conselho de Administração e Comissão Executiva do Banco Único, molda a sua abordagem face à complexidade dos desafios enfrentados pela TENSAI?

O Banco Único foi um capítulo muito bonito na minha vida, definitivamente marcante por tudo, pelas pessoas que confiaram em mim para estar na conceção e fundação do Banco, em especial ao Dr. João Figueiredo com quem tive a honra de trabalhar e muito aprender. Fiz parte de um grupo restrito que do nada, à volta de uma mesa com um computador à frente, passo por passo, dia à dia, hora a hora e foram muitas e muitas horas, em Moçambique, na India, em Portugal, na Africa do Sul, nos Estados Unidos da América, em Inglaterra com sacrifício e apoio da minha esposa sem o qual não tinha sido possível, lutamos para em 12 meses abrir um banco sem os tradicionais consultores do sector a dar apoio e que tinha um objetivo claro, ser diferente e criar valor para a sociedade moçambicana, para os moçambicanos, para os acionistas, para os colaboradores, para os clientes e para os parceiros.
Com a assinatura “Ser Único muda Tudo”, no Banco Único tudo foi pensado ao mais ínfimo detalhe ancorado na relação, na tecnologia inovadora, numa imagem diferente e em balcões que eram espaços de experiência para quem nos visitava. Ao longo desses 7 anos conheci todos os que se foram juntando ao projeto feito com uma esmagadora maioria de quadros locais ávidos de conquistas, de mais e mais. O Banco Único, entretanto, foi vendido parcialmente a um grande Banco sul africano o Nedbank em 2014 que consumou em 2019, penso eu, a compra da larga maioria do capital do banco.
Está para mim claro que os valores e as pessoas unidas, coesas com um mesmo propósito são a chave no sucesso das organizações e esse foi precisamente o sucesso do Banco Único que tinha uma equipa de gestão que se conhecia, que comungava dos mesmos valores, com características e feitios diferentes, mas totalmente focados no desafio de fazer acontecer.
A complexidade da Banca é muito elevada, pela responsabilidade que o sector tem nas sociedades, a importância dos “checks and balances”, a antecipação e monitorização de riscos e são muitos (credito, liquidez, taxa de juro, reputacional, operacional,etc), o governance, a relação com diferentes atores, sejam autoridades locais ou entidades internacionais, o cuidado na comunicação e relação com o mercado, a gestão e os equilíbrios das equipas e a relação com os clientes.
Na atividade industrial e imobiliária, a complexidade não tem a mesma dimensão que na atividade bancária, mas na minha opinião os princípios são os mesmos e fatores de sucesso estão ancorados nos mesmos princípios.
Valores facilmente percetíveis por todos, uma equipa forte, coesa e empenhada, conhecimento profundo do mercado nacional e internacional, estratégias e ações de leitura de mercado nos tempos certos, de investigação e desenvolvimento e de gestão de pessoas que moldam as decisões curto, médio e longo prazo que temos que tomar.

Como o Grupo Tensai, aborda a constante procura de inovação dos seus produtos, de modo a garantir uma boa experiência de venda e pós-venda junto dos seus clientes.

A Tensai é há alguns anos uma PME líder, focada fundamentalmente na exportação para cerca de 80 países naturalmente com um foco nos mercados geográficos mais próximos, que procura nichos de mercado em que se possa diferenciar e com isso está melhor preparada para os desafios do mundo global que temos.
A Tensai testa todos os produtos que produz e com isso atinge níveis de satisfação elevadíssimos, executa testes de fiabilidade acima dos padrões mais exigentes do sector e só assim atinge os níveis de satisfação que tem. A Tensai não compete pelo preço, a Tensai compete na qualidade, na fiabilidade e na inovação, valorizamos muito a relação estável com os nossos parceiros e gostamos imenso que nos desafiem

No início de 2024, quais são os desafios que identifica como sendo os mais significativos para a TENSAI?

A conjuntura nacional e internacional é de grande incerteza e muito volátil, vivemos uma pandemia que mudou a vida de todos nós, afetou cadeias logísticas e de produção, no fim deste período assistimos a um pico inflacionista que não tínhamos há muito tempo, com impacto nas políticas monetárias que resultaram na tradicional receita de subida de taxas de juro e redução de liquidez para arrefecer o consumo, e agora temos uma esperada “aterragem suave” que não sabemos se será uma efetiva recessão. Os conflitos internacionais têm impactos enormes nas cadeias de distribuição e nos nossos fornecedores e clientes. Os grandes desafios para a Tensai são a capacidade de avaliar corretamente as cadeias de abastecimento para que a produção se mantenha com qualidade e preço, continuar a diversificar a linha de produtos e procurar novos mercados

Como membro fundador do ‘Gorongosa Business Club’ de que maneira a sua ligação ao Gorongosa National Park, em Moçambique, influencia os projetos da Inspired Orbit na criação de espaços verdes integrados nos seus imóveis?

A natureza é um bem de todos nós e que temos a obrigação de cuidar, só que é um bem quase intangível no sentido que são muito poucos os que conseguem mensurar e valorizar a natureza e o que ela nos dá, talvez por isso a fraca consciência global da importância que ela tem e o que deve ser feito para preserva-la. Em alguns pontos do planeta em que a poluição atingiu níveis extremos e está diariamente presente talvez essa perceção esteja a mudar. Na nossa sociedade os fenómenos climatéricos são aqueles que mais relembram o tema, mas são ainda vistos como pontuais. Cresci no campo em contacto com a natureza e há 27 anos que me relaciono com Moçambique e apaixonei-me pela vida animal e pela conservação. Fiz parte da fundação de um projecto “Gorongosa Business Club” que tinha como principal objetivo dar a conhecer ao mundo empresarial em Moçambique tudo o que estava a ser feito na restauração do Parque Nacional da Gorongosa com impacto directo e indirecto na melhoria das condições de vida das populações locais. Foi uma honra e uma satisfação enorme ver o sucesso do projeto e tudo que se conseguiu fazer com o envolvimento de muitas empresas no Parque Nacional da Gorongosa, nomeadamente a JAT Constroi empresa do Sr. João Preto que comunga da mesma paixão.
Os espaços verdes são uma marca dos projetos que temos em construção, tentamos tê-los sempre presentes em quantidade e qualidade, inspiramo-nos muito no conceito de integração destes espaços da qual a arquitetura sul africana que é um bom exemplo.

Para finalizar, que conselho daria a jovens profissionais que aspiram a cargos de liderança, especialmente na construção de uma carreira em setores tão dinâmicos como o financeiro e o imobiliário?

Procurem sempre muito o conhecimento, e organizações que valorizem a partilha de conhecimento, não se foquem na remuneração, não fiquem com questões por colocar, não deem nada como adquirido, sejam curiosos mesmo de coisas que por vezes não sejam da vossa responsabilidade ou área, procurem inovação, prestem atenção aos pequenos detalhes, reúnam o maior numero de contributos possível, trabalhem em equipa, prestem muita atenção à comunicação, não fujam da responsabilidade errar faz parte do processo, a incerteza é a maior certeza que temos mas nunca deixem de tomar decisões fundamentadas, procurem sempre relações positivas à vossa volta, se puderem e conseguirem viajem, conheçam o maior número de pessoas e finalmente como dizia o saudoso Raul Solnado, “façam o favor de serem felizes”.